A cruz é o sinal da vitória, é o sinal do reino, é o sinal da boa nova, é o sinal de Jesus Cristo, é o sinal da nossa salvação. Qualquer ação de Cristo é motivo de glória para nossa fé, mas Santo Agostinho vai dizer que a glória das glórias é a cruz.
Texto: Patrícia Gomes
Fotos: Aureni e Danielly
Mensagem Litúrgica
Data: 15/04/22
Presidente da Celebração: Frei Flávio
É sexta-feira da paixão e hoje é um dia de silêncio, um profundo silêncio recai sobre a terra, no coração humano. Hoje podemos dizer “refulgem em toda a Igreja o mistério da cruz, o mistério do crucificado”. A bela liturgia de hoje nos propõe essa visão da cruz, o mistério do crucificado, contemplar a cruz não só com nossos olhos, mas enxergar com nosso coração. Não obstante todos os nossos esforços, ela permanece uma visão dolorosa que se baseia em sentimentos de arrependimento e compaixão. Esse dia tem um quê de dor, tem um quê de saudade, saudade de Deus. Esse dia nos deixa com saudade daquele que nos amou tanto e é por isso que dói a nossa alma e dói o nosso coração porque nós também ajudamos a flagelar o Senhor.
Nós ainda continuamos a ajudar a flagelar o Senhor, numa sociedade “desacralizada”, numa vida “desacralizada”. Infelizmente, muitas vezes, a partir das nossas próprias casas, onde se perde a noção de Deus e do sagrado. A cruz nos é apresentada como um lenho sob o qual foi suspenso o Cristo. Nos cantos que acompanham o beijo da cruz por parte dos fiéis nós diremos: “Deus Santo, Deus forte, Deus imortal tende piedade de nós”. Cantaremos ao mesmo tempo os impropérios que vêm da boca do Senhor: “Povo meu que te fiz eu? Dizem que te contristei. Eu te vi sair do Egito, te alimentei, preparei-te bela terra. E continua esse choro divino. Jesus se dirige com o coração palpitante a nós pecadores dizendo: Povo meu, que mal te fiz? Que dor te causei? Responde-me”. Mas mesmo assim a humanidade continua se afastando do Senhor.
Na narração de São João, Cristo é suspenso na cruz, mas ele é glorioso. É uma paixão que traz glória. Os pagãos não conseguiam fazer com que os cristãos se envergonhassem da cruz. Naquele momento, suspenso na cruz, era algo muito vergonhoso para os pagãos. São Paulo, como resposta, escrevia aos primeiros cristãos: “Quanto a mim jamais não devo, não pretendo gloriar-me a não ser na cruz do meu Senhor Jesus Cristo”. Ali está a glória, no despojamento, no vazio, no esvaziar-se. A cruz é o nosso estandarte, é o sinal da nossa salvação. Deixa de ser vergonha, deixa de ser queda e é por isso que nas procissões é a cruz que vai a frente, pois é o sinal da vitória, é o sinal do reino, é o sinal da boa nova, é o sinal de Jesus Cristo, é o sinal da nossa salvação. Qualquer ação de Cristo é motivo de glória para nossa fé, mas Santo Agostinho vai dizer que a glória das glórias é a cruz. Ele domou o mundo não com ferro, mas com o lenho. Assim ele domou o nosso coração. No alto da cruz ele não perde a vida, ele se entrega, ele se doa. É o grão de trigo que é colocado na terra, que morre, mas que nasce e renasce. Ali vemos o senhorio de Cristo que se revela depois na ressurreição, mas se apoia na cruz. A mais perfeita teologia traçada na sexta-feira santa é do apocalipse de São João: “O Cordeiro morto e ressuscitado”. Cristo inunda com o poder do seu espírito a Igreja e o mundo. Tudo está consumado. Que a dor do nosso coração se converta em amor, esperança, alegria. É o nosso divino redentor, silenciemos os nossos corações, mas um silêncio alegre.