Sacrossanta Basílica Menor Santuário São Francisco de Assis

Na Mensagem Litúrgica da 3aSemana da Quaresma, missa das 19h, a comunidade do Santuário ouviu a importância de nós, católicos, sermos modelo de conversão. Primeira Leitura (Êx 17, 3-7), Salmo Responsorial (Sl 94), Segunda Leitura (Rm 5, 1-2.5-8) e Evangelho (Jo 4, 5-15.19b-26.39a.40-42 – Forma breve)

Por Ribamar Araújo

A sede é um tormento que não se pode aguentar, nem iludir por muito tempo. A desidratação causa um mal-estar progressivo e pode conduzir à morte rapidamente. Por isso, este elemento da natureza é essencial ao organismo humano, de tal forma que a nossa capacidade de tempo de sobreviver sem comer é maior do que a nossa capacidade de sobreviver sem beber. Para todo o universo, pode dizer-se que onde há água, aí podemos encontrar a vida; onde não a há, não se sobrevive. Jesus recorre à imagem da água para nos falar de um bem sobrenatural importantíssimo: a graça santificante, a participação da vida divina na criatura racional. Por isso a água tantas vezes, como na liturgia do batismo evoca ‘vida nova’. Clique na imagem abaixo para ver mais fotos do 3o Domingo da Quaresma no Santuário São Francisco de Assis:

A Liturgia Quaresmal convida-nos neste terceiro Domingo a meditar sobre a água sobrenatural, a vida da graça em nós: Jesus, Fonte da água viva.

Na primeira Leitura do Livro do Êxodo o povo israelita que vagava no deserto “sedento” murmurava contra Moisés, dizendo: “Porque nos fizestes sair do Egito? Para nos deixares morrer à mercê da sede, a nós, aos nossos filhos e ao nosso gado?”. Então Moisés clamou ao Senhor, dizendo: “Que farei a este povo? Por pouco não me apedrejam”. O Senhor respondeu a Moisés: “Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Ferirás na pedra e dela sairá a água para o povo beber”. Moisés assim fez à presença dos anciãos de Israel. E chamou àquele lugar Massa e Meriba. Sobretudo, na experiência da solidão e do deserto, a água ganha um valor fenomenal.

O texto sagrado nos coloca diante de dois nomes que simbolizam a um só tempo lugares que em seus nomes evocam realidades Massa (cujo significado é “provação”, “teste”) é uma das localidades que a Torá identifica como tendo sido percorrido pelos israelitas durante o Êxodo, Massa é mencionado ao mesmo tempo que Meriba(lugar da Tentação), em um contexto que sugere que Massa esteja na mesma localização que Meriba, mas outas menções bíblicas dos lugares, como aquela na Benção de Moisés, parecem implicar que elas são localizações distintas. O texto bíblico afirma que os israelitas discutiram com Moisés sobre a ausência de água, e Moisés os repreendeu por colocarem Yahweh à prova, daí o nome Massa.

Através do Salmo 94 (95), 1-2.6-7.8-9 (R. cf. 8), somos chamados à adoração e à obediência, recorda o incidente em Massa: “Porque ele é nosso Deus, e nós somos seu povo; e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão. Oxalá ouvísseis sua voz: ‘Não fecheis os corações como em Meriba, como em de Massa no deserto, aquele dia, em que outrora vossos pais me provocaram, apesar de terem visto as minhas obras”.

A Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo revela aos Romanos, “Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores”.  O texto ressalta que somos justificados e salvos pela entrega amorosa de Deus apesar de nossas fraquezas.

O Evangelho segundo São João narra que Nosso Senhor Jesus Cristo se dirige à Samaria, cidade que estava desde o cativeiro de Babilônia de relações cortadas com os judeus, para salvar uma mulher pecadora; e enfrenta um calor sufocante. Diz o Evangelho que estava cansado do caminho no sol escaldante do deserto, “cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta do meio-dia. Chegou uma mulher da Samaria para tirar água. Jesus disse: ‘Dá-Me de beber’. Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos. A mulher samaritana disse então a Jesus: ‘Como é que Tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?’. De fato, os judeus não se dão com os samaritanos. Respondeu-lhe Jesus: ‘Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva’”.

Naquele tempo um homem não se dirigia a uma mulher se não fosse seu marido ou seu filho. Naquele contexto muito menos um judeu se dirigiria a uma samaritana. Jesus rompe com essa lógica, desafia a lógica da submissão da mulher ao homem e a superioridade de um povo, o judeu a outro, o samaritano. E revela a samaritana como partícipe da misericórdia e da graça de Deus. Jesus chama a samaritana como Marta e Maria, ‘Mulher’ e ela o revela como o Messias. Disse-lhe Jesus: “Mulher, acredita em Mim: Vai chegar a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus”.

Para sobressalto dos discípulos, admirados por Ele estar a falar com aquela mulher, é ela quem se faz anunciadora do Messias e corre à cidade e fala a todos: Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será Ele o Messias? E O povo saiu da cidade e vieram ter com Jesus. Entretanto, os discípulos insistiam com Ele para que Jesus se alimentasse. Mas Ele respondia-lhes: “Eu tenho um alimento para comer que vós não conheceis. O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que Me enviou e realizar a sua obra. Não dizeis vós que dentro de quatro meses chegará o tempo da colheita? Pois bem, eu digo-vos: ‘Erguei os olhos e vede os campos, que já estão dourados para a colheita. O ceifeiro recebe o salário e recolhe o fruto para a vida eterna e, deste modo, se alegra o semeador juntamente com o ceifeiro’. Nisto se verifica o ditado: ‘Um é o que semeia e outro o que colhe’. Eu vos enviei para colher aquilo que não trabalhastes. Outros trabalharam e vós aproveitais-vos do seu trabalho”. Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus, por causa da palavra da mulher, que testemunhava que o Senhor havia dito a ela tudo que ela havia feito. Por isso os samaritanos, quando vieram ao encontro de Jesus, pediram-Lhe que ficasse com eles. E ficou lá dois dias. Ao ouvi-lo, muitos acreditaram e diziam à mulher: “Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que Este é o verdadeiro salvador do mundo”.

Como sempre fazia na vida pública, Jesus parte de uma realidade natural para nos abrir os olhos da fé ao sobrenatural. Explica o mistério da graça santificante, da vida divina, pela água de que nos servimos todos os dias. Vencer as barreiras que separam as pessoas. É preciso ser corajoso, audaz, para se aproximar das pessoas e vencer a sua repugnância ao diálogo. A mulher é conquistada pela acolhida de Jesus que a ela dirige a palavra, ao contrário de todos os outros judeus que, por um complexo de superioridade, desprezavam os samaritanos, negando-lhes a saudação normal.

Embora tenha respondido com uma certa desconfiança e ironia, a mulher mostrou-se sensível a este gesto humano de Jesus. Jesus fala agora abertamente com esta mulher pecadora, ajudando-a a compreender a sua situação e a desejar uma mudança de vida verdadeira. A samaritana nos ensina com o seu percurso de fé e nos oferece um itinerário para nossa conversão ao Deus único e verdadeiro que se dar a conhecer no Jesus histórico, Judeu, e se revela como “Messias” o Salvador. E a Mulher Samaritana como modelo de conversão nos chama a nos tornarmos como anunciadores do Messias que é a Salvação.

Edição: Letícia Oliveira

Fotos: Fernando Carlomagno

Transmissão: Alícia Vasconcellos