Sacrossanta Basílica Menor Santuário São Francisco de Assis

A insistência no caminho de oração está muito presente na vida de São João Maria Vianey, mas também na vida de São Francisco e Santa Clara. Francisco era um homem feito oração e por vezes saia da oração com o rosto reluzente, transformado.

Texto: Patrícia Gomes

Fotos: Fernando Carlomagno

Mensagem Litúrgica
Primeira Leitura (Nm 13,1-2.25-14,1.26-30.34-35)
Responsório (105/106)
Evangelho (Mt 15,21-28)

Na quarta-feira (04/08/21), dia do padre, foi feita uma homenagem surpresa para os freis no salão paroquial, mas antes, na celebração das 19h, o nosso pároco, Frei João Benedito, fez uma bela homilia. Vejamos o que ele disse:

Em uma reflexão do santo que se celebra hoje, São João Maria Vianey, ele vai falar sobre a oração. Vai dizer que a oração é um diálogo com o Senhor e que o problema é que muitas vezes nós não nos preparamos antes de nos dirigirmos ao Senhor, de nos apresentarmos a Ele.  Depois de falar sobre a oração, ele vai dizer que São Francisco e Santa Clara eram dois santos que tinham um diálogo muito íntimo com o Senhor, como se fosse um amigo. Isso nos faz entrar no tema no que acontece no evangelho. Mas antes voltemos à primeira leitura do livro dos Números: nela há uma menção ao fato de o povo de Israel estar mais uma vez murmurando contra Deus. À medida que esse povo vai adentrando o deserto, existe um sentimento ruim deles em relação a Deus, a Moisés e a Arão. Deus envia as tribos para conhecerem a terra prometida, no entanto o povo não acredita que vai chegar nela. Diante disso, a fé do povo de Israel estremece a ponto de eles pedirem por uma solução humana, um exército, e não mais pelo Senhor. Deus então toma uma decisão: decide que aqueles que foram libertos não entrarão na terra prometida, mas sim aqueles que nasceram no deserto. Essa situação do povo de Israel nos traz a reflexão de que, assim como aquele povo não conseguia esquecer a escravidão, nós muitas vezes também nos prendemos a situações das quais o Senhor já nos libertou.

No evangelho, temos um fato raríssimo: a mulher que se aproxima de Jesus é uma cananeia. E quem são os cananeus? Historicamente, em todo o Antigo Testamento, são os grandes inimigos do povo de Israel. No Antigo Testamento encontramos uma expressão em que os cananeus são chamados de cachorros. A rivalidade é a que persiste ainda hoje entre Israel e Palestina. Os palestinos são descendentes dos cananeus. A mulher encontra uma forma de expressar a sua fé no Messias, porém Jesus é indiferente, não responde nada. Os discípulos também não tem o mínimo de misericórdia: falam para Jesus fazer alguma coisa, pois a mulher está incomodando. Mas Jesus vai dizer que veio para as ovelhas perdidas da casa de Israel, ou seja, diz que não é o Messias para aquela mulher cananeia.  E a resposta de Jesus é ainda mais dura: Não fica bem tirar o pão dos filhos e dar aos cachorrinhos. Jesus usa a expressão que os filhos de Israel usavam para chamar os cananeus. A mulher insiste: os cachorrinhos também comem as migalhas que caem das mesas de seus donos. Essa é a única vez que Jesus age assim com uma pessoa estrangeira. Nós temos a imagem de Jesus como aquele que sabe tudo e não precisa crescer, evoluir, mas isso não seria humano. O fato de Deus se manifestar em Jesus humano implica que Jesus, assim como cada um de nós, precisa amadurecer e evoluir. Essa mulher sai transformada assim como toda pessoa que se encontra com Jesus, mas existe um aspecto peculiar nessa mulher corajosa de cananeia: é ela quem vai ensinar para Jesus que Ele é o salvador não somente das ovelhas perdidas da casa de Israel, mas de todos os povos, inclusive dos inimigos cananeus. A partir desse momento, Jesus vai se entender como Messias universal, chamado para salvar a todos. A partir daí, quando Jesus se encontra com estrangeiros, ele vai dizer que não encontrou tamanha fé em Israel. Jesus vai dizer a essa mulher: Grande é a tua fé, seja feito como tu queres. Assim a mulher volta curada para casa. O que temos nesse evangelho é a dinâmica da oração. Nós também nos sentimos muitas vezes desanimados, mas mesmo assim insistimos na oração, assim como a mulher cananeia insistiu com Jesus.

A insistência no caminho de oração está muito presente na vida de São João Maria Vianey, mas também na vida de São Francisco e Santa Clara. Francisco era um homem feito oração e por vezes saia da oração com o rosto reluzente, transformado. A oração nos transforma e vai transformando nossa vida à imagem de Jesus Cristo. O desafio é rezar e entrar em silêncio, pois vivemos em um mundo muito barulhento, criamos uma máquina de barulho. Na época de São Francisco era muito mais fácil fazer silêncio. Nós temos internalizado tanto barulho que acaba nos atrapalhando na hora de rezar e só se consegue isso por meio da prática de oração. São João Maria Vianey foi enviado para uma paróquia em que não havia participação da comunidade, mas o santo insistia em ficar na Igreja rezando e assim começou a chamar atenção do povo, que passou a ir à Igreja para vê-lo rezar e perguntou a ele qual era o método para rezar melhor. Ele disse: Eu olho para ele e ele olha para mim. É algo simples, mas que pode transformar o nosso coração.